"...O êxito é benéfico, se for merecido; exalta a personalidade, estimula-a. Possui outra virtude: desterra a inveja, veneno incurável dos espíritos medíocres. Triunfar a tempo merecidamente é o orvalho mais favorável para qualquer germe de superioridade moral. O triunfo é um bálsamo dos sentimentos, uma lixa eficaz contra a asperezas do caráter. O êxito é o melhor lubrificante do coração; o fracasso é seu corrosivo mais dolorido."
"...A popularidade ou a fama costumam dar transitoriamente a ilusão da glória. São falsas e baratas, extensas mas não profundas, esplendorosas mas fugazes. São mais do que o simples êxito, acessível ao comum dos mortais; mas são menos que a glória, reservada exclusivamente aos homens superiores. São ouro falso, pedra falsa, luz de artifício. Manifestações diretas do entusiasmo coletivo e, por isso mesmo, inferiores: aplauso de multidão, com algo de frenesi incosciente e comunicativo. A glória dos pensadores, filósofos e artistas que traduzem a sua genialidade mediante a palavra escrita, é lenta, mas estável;seus admiradores estão dispersos e não aplaudem isoladamente. No teatro e na assembléia a admiração é rápida e barata, emnbora ilusória; os ouvintes se sugestionam reciprocamente, somam seu entusiasmo e explodem em aplausos. Por isso qualquer bobo da ocasião pode conhecer o triumfo mais de perto que Aristóteles ou Spinoza; a intensidade, que é o êxito, está em razão inversa da duração, que é a glória. Esses aspectos caricaturescos da celebridade dependem de uma aptidão secundária do autor ou de um estado acidental da mentalidade coletiva. Quando decresce a aptidão ou a circunstância não é favorável, voltam à sombra e assistem em vida seus próprios funerais."
"... Compartilhando as ruínas e as fraquezas da mediocridade do meio, é fácil transformar-se em arquétipos da massa e ser famosos entre seus semelhantes, mas quem assim ascende, morre com eles. Os gênios, os santos e os heróis se negam a escravizar-se ao presente. Com a proa dirigida para um ideal remoto, querem ser mestres na hostória.
A intergridade moral e a excelência de caráter são virtudes que não vicejam nos ambientes inferiores, mais acessíveis ao apetite do medíocre do que do digno altivo: neles mora o êxito falaz. A glória nunca coroa de louros a cabeça daquele que se complicou nas ruínas de seu tempo; frequentemente tardia, às vezes póstuma, embora sempre segura, costuma ornar a cabeça dos que olharam o futuro e serviram a um ideal, praticando o lema que foi a nobre divisa de Rousseau: vitam impendere vero."
O HOMEM MEDÍOCRE - José Ingenieros
Em tempos de celebridades instântaneas (fabricadas pela grande mídia) , totalmente despreparadas e sem uma história que torne digna a sua notoriedade, acho que alguns trechos deste livro, como os postados acima, deveriam fazer parte da leitura obrigatória de todos. Se houvesse algum nível de entendimento ou de consciência (o que acho improvável) correríamos o risco de um suicídio coletivo de grande parte do que vemos por aí na TV e em outras mídias.
O interessante é que esse livro foi escrito originalmente em 1910, cem anos depois, continua super atual.
Maravilha de leitura. ;)
Bom final de domingo.
22 de agosto de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário