22 de outubro de 2008

Reflexão sobre a percepção de valor intrínseco

Bom, o conteúdo abaixo chegou às minhas mãos pelo meu amigo Varotto e posso dizer que fiquei tanto entusiasmado como triste. É incrível como o ser humano é de maneira geral medíocre, manipulável e insensível. Pode parecer uma experiência simples mas, a meu ver, diz muito muito muito sobre nós. Segue o texto e o video:


Reflexão sobre a percepção de valor intrínseco

Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô: vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.

Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de mil dólares. A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife. Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço. O que tem valor real para nós, independentemente de marcas, preços e grifes? É o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser?

Essa experiência mostra como na sociedade em que vivemos os nossos sentimentos e a nossa apreciação de beleza são manipulados pelo mercado, pela mídia, e pelas instituições que detém o poder financeiro. Mostra-nos como estamos condicionados a nos mover quando estamos no meio do rebanho.



Maiores detalhes sobre o experimento em:

http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/discussion/2007/04/06/DI2007040601228.html

3 comentários:

Varotto disse...

É camarada. Quando te mandei, eu tinha certeza de que isso ia tocar você, assim como me impressionou.

Acabei adicionando o link no final, que descobri quando tentava confirmar a veracidade da notícia antes de passar à frente. Ele contém detalhes de como o idealizador da idéia colocou-a em prática (supreendentemente, não foi tão simples).

Há alguns anos, em Paris, eu passei por uma situação que acho que entra nessa mesma discussão.

Visitando o museu de arte moderna, embora tenha visto coisas muito legais, fiquei um pouco revoltado com algumas coisas que vi e, nem que me torturem, nuca vou admitir como arte. Então, após algum tempo tive a idéia de pedir à Ana para tirar uma foto minha admirando o alarme de incêndio do corredor como se você uma obra de arte (e até que era bem bonitinho).

Aí chegou uma mulher que trabalhava no museu, soltando fumaça pelas ventas, e me disse que não podia tirar aquela foto. Sendo pego de surpresa e como se tratava de um equipamento de segurança, achei que houvesse regras quanto a isso e, simpaticamente, disse que poderia apagar a foto.

Mas ela continuou me perguntando sobre a foto e aí eu vi que ela tinha entendido perfeitamente minha intenção e tinha ficado ofendida com ela. Quando enxerguei isso, disse secamente que tirei a foto porque quis e ela saiu pisando forte.

Agora vejamos: euzinho aqui um mero mortal tento me expressar de uma forma, diga-se, mais inteligente do que boa parte das obras daquele museu, e sou veementemente recriminado. Se eu fosse um dito "artista", com roupa de artista, cara de artista, crachazinho de artista e com algum bam-bam-bam da crítica me chamando de artista, poderia expor aquela foto naquele mesmo museu, chamá-la de "uma crítica à banalização da arte" e aquela mesma mulher furiosa, estaria batendo palminhas e me cobrindo de elogios.

Fazer uma coisa diferente e/ou esquisita não faz dela, automaticamente, uma obra de arte. Mas se alguém, teoricamente habilitado a fazê-lo, baixa o decreto de que aquilo ali é uma obra de arte, todas as ovelhinas vão atrás batendo palminha.

O DuChamp que me perdoe, mas um mictório de banheiro masculino exposto em um pedestal, não é arte.

Minha foto é melhor...

Marcelo Barbosa disse...

É meu amigo... gostei tanto do seu email que virou post! Rs...

Achei incrível como é fácil provar que a nossa maioria é totalmente manipulável....

Por essas e outras que caras como Carlinhos Brown passam por geniais...

Rs

Pod papo - Pod música disse...

É verdade.
O artista de rua não é valorizado,(não é valorizado porque a mídia não valoriza e as pessoas só dão valor ao que está na mídia) as pessoas não curtem ficar assistindo artistas de rua. Elas pensaram que o violinista era apenas mais um pobre que ganha a vida tocando instrumentos no metrô e não deram a devida importância para ele! Mal sabiam que uma apresentação dele custa caríssimo! Se tivessem o reconhecido teria sido bem diferente mas, como acharam que era um artista de rua, nem se deram ao trabalho de olhar para ele.

Beijão!

 
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